No centro da pequena sala, um
homem sentado, a abraçar as pernas contra a sua face. O homem olha para uma chama que
se eleva de um pequeno buraco no centro do chão de granito negro. A chama contorce-se e diminui, devolvendo
à pequena sala um pouco do abraço do vazio. O homem aperta-se mais contra si próprio,
retraindo-se do frio que se apodera do espaço. Entre tremores pergunta-se quando irá por fim
desaparecer aquela desculpa patética de fogo! Há tão pouco era inferno de labaredas
na iminência de tudo consumir. Fervia o sangue em deslumbramento, libertava fumos que cegavam os olhos e toldavam a mente. Agora, somente pequena chama de vela, é incapaz sequer de aquecer o frio
cortante que regressa e, ainda assim, ameaça queimar quando o
desespero por calor levar à aproximação excessiva de um toque.
Ouve-se um murmúrio do homem “Desaparece. Não me tentes mais. Deixa-me voltar ao meu
mundo de torpor e negrume. Serei novamente estátua de gelo.” E a prece termina num tremor, não de frio, mas de medo que o desejo seja atendido.
O homem adormece. A chama morre.
Se haverão lágrimas silenciosas quando o homem acordar ou até mesmo se acordará antes de voltar a ser glaciar humano, não o saberei. Está demasiado escuro para que o consiga ver.