Senti-a eclodir no instante em que a Luz me amornou o bater compassado do coração, mas talvez sempre tenha feito parte dele. Talvez aquela larva aguardasse apenas o calor daquele Sol para me reclamar o reconhecimento da sua existência, pois em coração e larva senti o toque da Luz. E em coração e larva senti o seu extinguir. E sentí-lhe o frio do negrume e a fome feroz que assomou a larva. Senti a sua loucura.
O coração descontrolado começou a ser consumido.
Cada cravar de cada dentada foi-me doído no músculo devorado e foi-me doído no verme que em nada mitigava a insaciabilidade faminta pela Luz desaparecida. Mordidas, rasgões, cortaduras até que já mais nada havia para devorar.
Então, em agonia, confusão e instinto, a larva tornou-se casulo. A dor cessou. A fome desvaneceu. Ficou somente um monólito de quietude que era aquele casulo a fazer as vezes do coração.
Nada dura.
Não durou o simples bater compassado do coração. Não durou o calor da Luz. Não duraram as mordidelas vorazes da larva. Não durou a quietude do casulo, interrompida pelo irromper das asas da mariposa.
Por vez de coração tenho uma mariposa, arremessando-se descontrolada contra o meu peito, ainda faminta pela Luz que a arrancou para a existência. Cada palpitar de asas ameaça rasgar-me o peito como casulo, se não me propulso sob a vontade do seu voar.
Escravo do esvoaçar desgovernado em direção a cada e qualquer chama, a cada e qualquer centelha. Subjugado a estes ímpetos, com ela vou crestando sob fogos, ansiando que surja o que finalmente a cegue, que de uma vez lhe consuma as asas, deixando-me afogar na escuridão do Sol que há muito se eclipsou.